Celacanto provoca
maremoto no RJ
O regime pluviométrico vem se
modificando a cada ano. As previsões meteorológicas estão passando por problemas
e incertezas, já que estão baseadas em modelos matemáticos inseridos em sistemas
computacionais, construídos ao longo dos anos que se passaram, com informações
armazenadas em bancos de dados, desde a instalação dos sistemas de observação
meteorológica visual, quando estes pertenciam ao Ministério da Agricultura (DMMET),
fazendo parte de um sistema mundial conduzido pela OMM – Organização Meteorológica
Mundial, órgão vinculado a ONU.
O sertanejo tem apostado na
sabedoria secular da observação e comportamento da natureza. No Rio de Janeiro
enchentes consecutivas destroem a região causando deslizamentos, desabamentos e
mortes. Ao mesmo tempo em que falta água nas cacimbas e açudes do sertão
nordestino, onde cidades estão desabastecidas e esquecidas.
Em qualquer grupo de conversa o
assunto é que as coisas estão mudando, que o clima já não é o mesmo, que o
tempo está passando mais rápido e que acontecimentos e pessoas não se comportam
mais como antigamente. Os jovens passam o dia diante de um computador sem se
interessar por livros. Pessoas que fazem uma postagem na internet a cada cinco
minutos sobre o que estão fazendo ou pensando.
A vibração do mundo vem mudando,
é outra, os desafios não são mais os mesmos, os objetivos estão mais distantes
e a necessidade de se ajustar a esta nova sintonia se faz necessário ser mais
rápida e cada um tenta a seu modo ser mais rápido. Tudo muda a cada momento e não percebemos, a
não ser que façamos uma pausa, ou uma parada para observar o que passou, e
prosseguimos novamente. Pause: stop and play again.
Na década de 1970 uma brincadeira
causou interesse, curiosidade, mistério e modificação do ambiente. Um grafite
com a frase “celacanto provoca maremoto” alastrou-se por muros a partir da
cidade do Rio de Janeiro. Deixou de ser grafite e passou a ser pixação, ocupou
as rochas pelas estradas do estado, cada vez indo mais longe, saindo do estado.
Informações dizem ter chegado aos EUA e Europa. Segundo consta a frase surgiu a
partir de um filme seriado passado na televisão brasileira, um filme de origem
japonesa, quando a televisão brasileira ainda transmitia imagens em P&B.
Um super herói nacional japonês de
nome National Kid (década de 1960), que com uma capa e pistolas de
raios defendia a Terra de invasões extraterrestres, ocorridas em cidades do
Japão. Em uma das séries invasivas haviam seres denominados abissais que viviam
dentro de um enorme submarino em forma semelhante a um peixe, um celacanto, peixe
que vive em águas profundas onde a luz solar não alcança. Vez por outra ele
vinha á tona causando transtornos a navegadores e cidades à beira mar, um dos
personagens do filme certa vez mencionou a frase: celacanto provoca maremoto. National Kid seria uma estratégia de marketing
da empresa japonesa a National de aparelhos
eletrônicos que mais tarde viria se chamar Panasonic.
Stop, parando e observando. Aliado
as mudanças, invasões e transformações assistidas na TV o contexto cultural brasileiro
também se modificava. O Rio de Janeiro sempre foi considerado a capital cultural.
A jovem guarda, o movimento da tropicália os festivais da canção, a MPB.
Cantores e compositores saíram de Salvador/BA, de Cachoeiro do Itapemirim/ES e
foram para o Rio de Janeiro/RJ mostrar seus talentos. Foram para voltar e não
voltaram.
A popularização das TVs em
ambiente doméstico. Os reclames comerciais. A americanização entrava nas casas
pela televisão construindo nossas cabeças desde a infância e os adultos da
época já se espantavam, comentavam e criticavam, e nem se davam conta que suas
cabeças também mudavam com filmes mostrando lares e famílias perfeitas. O celacanto provocou um maremoto cultural e
comportamental.
Parnamirim/RN - 24/03/2013
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Roberto
Cardoso
(Maracajá)
Cientista Social
Jornalista
Científico
Sócio Efetivo do
IHGRN
(Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte)
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